domingo, 29 de agosto de 2010

Dimi escritor

Há algum tempo venho escrevendo crônicas, ou algo parecido com isso. Tomo coragem agora, nesse espaço de mostrar publicamente uma delas. Todos convidados à leitura e comentários.
Abraços, Dimi


SAUNA NO BUMBA


Volta prá casa. Véspera de Carnaval. Terminal cheio. Quente, muito quente. Ônibus só daqui a duas horas - hora de encarar o famoso croquete de rodoviária.
Violão, mala, guarda-chuva, um painel metálico próprio para “pregar” fotos com imãs, uma lixeira decorada – encomenda da minha mulher para o quarto da filha que vai nascer - um moderníssimo descascador de abacaxis adquirido junto a um camelô na 25 de Março e calor, muito calor.
O violão preso como uma mochila junto às costas, mole, mole. Mala de rodinha, mole, mole. Guarda-chuva há muito necessário teimava em enroscar o cabo exposto. O painel metálico para fotos com imã estava leve, mas desajeitado pelo tamanho, não poupava meus dedos, apesar do plástico bolha - ah! O plástico bolha, pura terapia- a lixeira e o descascador eu carregava feliz só pensando na sensação que iriam causar. Chique, muito chique.
Chego à plataforma de embarque 20 minutos antes, o ônibus já está lá. Legal! Acomodações para as malas, lá vou eu feliz pro meu assento. Calor, calor. Veículo moderno, mas o ar está desligado. Quente, quente. Lotado. As pessoas demonstram um certo desconforto, mas não há manifestação. Todos se fecham incognitamente.
Uma voz alta ao celular:
-- Isso! Dá aquela bolacha da embalagem amarela, mas não muito, ele está muito gordo.
– Depois você pega no armário embaixo da pia aquela outra mais quadrada que eles adoram.
– É! A roxinha, ai que gracinha! Mas não deixe eles comerem muito, já estão muito pesados.
-- Que horas você vai chegar? Tá, tá! Eu volto na quarta...
A conversa alta incomodava, o calor incomodava, mas eu, prestes a ser pai aceitava quase que com uma culpa. Coitada! Acho que os outros passageiros, a julgar pelos entreolhares, pensavam como eu.
--Não vá deixar passar da hora, hein?
A conversa telefônica continuava com recomendações de carinho, explicações e repetições exaustivas. A essa altura todos pareciam estar a par da situação, aptos a se candidatarem para a primeira vaga de babá disponível. Calor, muito calor. E esse motorista que não liga esse ônibus.
Enfim, ela desliga, ufa! Mas... começa a conversar com a companheira de poltrona, no mesmo volume.
--Ai! Detesto viajar assim.
-- E o seu marido? Pergunta a outra.
-- Moro sozinha, responde ela.
Comoção geral. Suor, suor. A conversa continua quase que aos berros:
-- Qual a idade deles?
-- Um tem 11e o outro 14 meses.
???????????????????????????????
--São lindos. Olhos azuis. Angorás...

Gatos?
Gritei indignado com os outros passageiros quase que em coro.
Nesse momento o motorista deu a partida e ligou o ar condicionado.
Acho que prá evitar o linchamento.

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